quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

As 5 melhores Stratocasters brasileiras dos anos 80


Olá amigos, quando o assunto é "Made in Brazil" o blog bomba nos acessos.. então por enquanto vai ser isso que iremos focar nesse momento (kkkk). Brincadeiras a parte, farei uma série de três postagens sobre as melhores Stratocasters brasileiras de todos os tempos, considerando as décadas de 80, 90 e anos 2000 e selecionaremos as quatro melhores no melhor estilo "The Big Four".

Para que possamos iniciar com esse post, é preciso relembrar aos leitores sobre um pouco da história das guitarras dentro do contexto brasileiro, que passou por diversos problemas para produção em série desses instrumentos, em uma época que a criatividade era mais em driblar burocracias, e menos nos instrumentos, pois a única coisa que a maioria das empresas brasileiras de instrumentos musicais fizeram foi copiar empresas de grande porte como Fender e Gibson (e mesmo assim muito mal). Vejamos alguns motivos.

Os recursos eram poucos e a dificuldade em conseguir hardware de primeira linha era muito grande. No Brasil se usava o que tinha a disposição e normalmente péssimos instrumentos eram construídos, mas isso não era uma regra e a prova é que hoje podemos encontrar instrumentos produzidos em solo brasileiro a bastante tempo atrás de muita qualidade, tanto na construção como nas madeiras utilizadas. Não é atoa que a Gibson por muitos anos utilizou o Mogno brasileiro em seus instrumentos, considerado como o melhor Mogno do mundo. Leo Fender esteve interessado no início dos anos 50 em pesquisar o uso das madeiras brasileiras em seus instrumentos, está escrito na biografia dele e acredito que tenha testado o Cedro, o Mogno e o Marfim, além de outras, decidindo pelo uso do Alder americano que na época era abundante em seu país, trazia ótimos resultados nas Stratos e não precisava importar. Falando em importar. no período da ditadura militar e até pouco tempo atrás era proibida a importação de instrumentos musicais para o Brasil. Assim, o sonho de ter uma Fender era praticamente impossível, a maioria das empresas brasileiras se empenharam a copiar os modelos mais tradicionais conhecidos: Les Paul, Stratocaster, SG, etc. E dessa forma, o mercado brasileiro foi inundado de cópias e se perdeu a originalidade dos instrumentos das décadas de 50 e 60 que foram produzidos aqui utilizando de grande esforço em obter boas guitarras de qualidade.

É verdade que tinha tudo para dar certo, pense bem: tínhamos as melhores madeiras e abundantes no nosso país, tínhamos mãe de obra barata, bons luthieres (quem achar o contrário, pesquise a história da luthieria no Brasil, e verão os nomes de peso que existiram aqui, onde foram construídos entre os anos 30 e 60 os melhores violões e instrumentos acústicos do mundo, não vou explicar nada nesse post para não fugir do tema), tínhamos um mercado que exigia bons instrumentos devido o mercado da música popular brasileira estar em alta durante esse período. O que não tínhamos? A mesma coisa que não temos agora: orgulho do Brasil e em ser brasileiro. A verdade é que deu errado, péssimos instrumentos foram feitos e a coisa toda descambou para piada atrás de piada. Mas nem tudo deu errado e algumas empresas tentaram se esforçar em fazer algo nobre, instrumentos que perduram até hoje em acervos dos principais colecionadores brasileiros. 

Vamos as cinco melhores Stratocaster brasileiras dos anos 80:


Golden Stratocaster




Essa eu já postei aqui e chamei carinhosamente de "Santo Graal" das Stratocaster brasileiras por causa da boa construção e das madeiras utilizadas nas primeiras construídas em solo brasileiro, mas que utilizavam partes de madeira e peças vindas da Coréia do Sul. Foram construídas em Alder e braço em Maple com escala em Rosewood no final dos anos 80 e início dos anos 90, acredito que seja de 89 em diante, e as últimas já não vinham mais com corpo em Alder e sim em compensado, isso mesmo, uma verdadeira tragédia com o instrumento. Também é possível encontrar variações do modelo, com o headstock pintado na cor preta e letras com o nome Golden em dourado, além da regulagem do tensor no final do braço e não no headstock como no modelo da foto acima.

Tagima Stratocaster (Pré fábrica)




Essa Tagima que eu estou me referindo não é a famosa anos 90 que o pessoal costuma idealizar na internet dizendo que é Fender porque foi feita pelo Seizi, mas as dos anos 90 já eram construídas na fábrica e eram supervisionadas pelos funcionários que utilizavam maquinário para produção em larga escala, ou seja, não eram feitas pelo Tagima. Essa de meados dos anos 80 (metade dos anos 80, de 84 em diante) marcam um período anterior à fábrica e eram construídas manualmente e artesanalmente uma a uma pelo próprio Seizi Tagima em sua oficina, muitos instrumentos foram construídos por ele apenas por encomenda. O Seizi diz em entrevista que tinha uma Fender americana dos anos 60 e que adorava aquele instrumento, e essas Stratocasters eram feitas com escala em Jacarandá, alguma dúvida que ele buscava inspiração em tentar reproduzir essa Fender? Eu não tenho nenhuma.

PS: Eu tinha várias fotos dessa Stratocaster no meu antigo notebook que queimei, se alguém me conseguir uma foto que seja de Tagima dos anos 80 Strato eu posto aqui.

Giannini Stratosonic AE08s




Talvez a Stratocaster mais bonita e de madeiras mais nobres construída em solo brasileiro. Existem poucas e raríssimas unidades circulando por aí e as mais bem conservadas se encontram no acervo dos principais colecionadores de guitarras vintages brasileiras. De vez em quando aparecem algumas poucas modificadas e customizadas com escudo e captadores modernos e que geralmente o pessoal exagera e pede na casa dos dois mil reais no site do Mercado Livre ou OLX. Guitarra pertencente a metade dos anos 80 e descontinuada na década seguinte, infelizmente não se trata de uma inovação ou criação da Giannini, o modelo foi copiado dos Japoneses que tinham lançado na década anterior as guitarras Maya e El Maya com exatamente essa conexão e desenhos das partes utilizadas com essas lindas madeiras.

Dolphin Stratocaster (Era Assale)




Unidade construída no final dos anos 80 em Mogno brasileiro e projetada pelo nosso saudoso Carlos Assale que queria desenvolver o modelo Stratocaster em sua empresa, a Dolphin. Possuía chave seletora diferente do convencional com três botões, onde era possível uma combinação maior entre os captadores atingindo maiores possibilidades timbrísticas do instrumento. Após a saída de Carlos Assale para a Giannini no início dos anos 90, a Dolphin ainda continuou com a produção do modelo Stratocaster, mas já não mantinha mais todas as características do modelo da chamada "Era Assale", embora ainda tivesse o DNA de seu criador, a guitarra trazia inovações como chave seletora de cinco posições, acréscimo da palavra/termo "Strato" no logo do headstock e escudo diferentes. 

8 comentários:

  1. Tenho uma dolphin ... a muitos anos parada e agora em reforma... ela realmente era uma nacional de respeito ... faltava bons captadores somente.

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    1. É verdade, o hardware era o ponto fraco.. como quase todas elas do mesmo período hehe

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  2. Olá. Foi ótimo achar esse post. Sem saber tenho a Golden "Santo Graal" ai citada, e a famosa Dolphin Carlos Assade anos 80.

    A Golden comprei por R$ 50,00!!!! que pertencia a uma menina que deixou jogada no canto da casa por anos, já toda detonada. Hardware e elétricas foi tudo pro lixo, mas o corpo e braço estavam intactos e fora isso, tudo o resto tive que comprar novo. Pintei de preto em luthieria mas agora que sei da procedência, penso no futuro retirar a cor e pintar de sumburst como no seu post. Tive que arrumar o verniz do braço e trocar os trastes. É um marfim lindo de peça única. Deixei sem logo de propósito mas agora penso em mostrar as origens dela. E pensar que eu ia vender em poucos dias, mas agora não me desfaço dela por nada.

    A famosa Dolphin Carlos Assade anos 80 que tenho, se não me engano é de 1984. Meu irmão lixou o corpo e não quis mais e me deu tudo. É mogno de uma peça só e sem uma falha sequer. É uma lindeza que estava escondida por baixa da tinta. Agora que sei da sua fama nem vou pinta-la de cor. Vou colocar um verniz acetinado. A ferragem e elétrica é um terror sim e ela já foi mexida (pra pior), mas isso é o de menos e se coloca coisa nova. O bloco da ponte é bem grosso e pesado mas vou verificar pois está niquelada. Vou retirar pra ver do que se trata. A Fender Custon Shop tem uma strato de mogno brasileiro acetinado.

    Agora vou até recolocar os logos Golden e Dolphin nas guitarras, com um toque de customização, já que trabalho com arte. Na Dolphin vou colocar em baixo "Versão Carlos Assade", ou algo do tipo.

    Fiquei feliz de saber que tenho duas raridades anos 80 e ainda por cima de altíssima qualidade de madeira. Sou um felizardo.

    Valeu pelo post.

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  3. Tenho uma Dolphin igualzinha a essa, só que perdi um dos botãozinhos do captador... de resto, ela tá interona.

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  4. Eu tenho uma tagima em mogno que peguei como pagamento na oficina do próprio seizi na Teodoro. Logotipo antigo, queria saber se é dessas e qual valor dela atualmente.

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