quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Cuidados: como enviar seu instrumento pelo correio?


Sabe aquele momento em que você está fechando a compra de uma guitarra pela internet mas percebe que o vendedor está completamente inseguro e não tem experiência em vendas e não faz a menor ideia de como vai enviar o instrumento? Seus problemas acabaram, basta que você mostre esse link ao amigo e espero que ele siga corretamente algumas dicas que irá encontrar aqui.

Primeiro, é importante dizer que nenhuma embalagem será segura o bastante caso você encontre uma transportadora ou funcionário que esteja de mal humor e trate sua embalagem como a gente costuma tratar um saco de lixo, embora nem um saco de lixo eu costume atirar na lixeira. No Brasil tudo pode acontecer, então todo o cuidado nunca parece ser o bastante e é preciso pensar em tudo.




1º regra de ouro: Sempre que possível, faça seguro de seu instrumento para que não venha a se arrepender futuramente, não aumenta tanto no valor e você ficará seguro em relação ao seu dinheiro investido no mesmo, se extraviarem o objeto, você e nem seu cliente perdem. 

2º regra de ouro: todas as empresas de transporte estão sujeitas a cometer erros, por tanto, não esqueça mesmo de fazer a primeira regra de ouro.

Material necessário:



Tesoura


Fita adesiva


Papelão


Barra de isopor



Folha isotérmica



Plástico bolha


Preparando a embalagem:

Aqui é bem simples mas se deve prestar atenção a alguns detalhes:



Coloque o braço em uma superfície lisa como uma mesa ou uma escrivaninha (no meu caso que já tenho prática eu costumo usar minha cama mesmo) e comece a embrulhar com o plástico bolha. Certifique-se que o braço esteja completamente enrolado e coberto pelo plástico bolha, depois disso basta enrolar como se estivesse enrolando um mapa em forma de canudo.


Depois disso ele ficará assim, totalmente coberto e com o formato de charuto. Para que fique bem preso e não desenrole, aplique algumas voltas com a fita adesiva no meio e nas extremidades.



Após preparar o braço, vamos preparar o corpo: coloque a unidade sobre a folha isotérmica/isolante. Se você não conseguir esse material (facilmente encontrável nas casas de embalagens e com custo baixo) você poderá utilizar jornal, terá praticamente a mesma eficiência, pois será importante para proteger da umidade e de impactos.


Depois de enrolar o corpo ele irá ficar com uma aparência de um prato embrulhado, isso mesmo, é quase que embrulhar aquela quentinha que você irá comer mais tarde no trabalho, por tanto, embrulhe com bastante carinho para não virar e desperdiçar comida, para não vir a passar fome mais tarde e se arrepender.

Tente se segurar e controle seus impulsos na hora de apertar as bolinhas de ar do plástico bolha, existem muitas pessoas que corretamente reaproveitam o plástico bolha e reutilizam inúmeras vezes em inúmeras viagens. Não está errado, mas verifique se essas bolhas de ar ainda estão cheias, caso contrário se caso todas estiverem "estouradas", sinal que o plástico bolha é velho ou já foi muito usado e nesse caso não irá proteger muito seu instrumento. Oriento a comprar nessas casas de embalagens, vendem a metro e não passa de poucos reais. Em último caso, se não tiver plástico bolha, enrole seu instrumento em roupas/cobertores/lençóis velhos. Já teve casos onde recebi instrumentos com as roupas velhas do vendedor, é bem engraçado porque parece que seu instrumento veio enrolado em roupa furada de mendigo, mas pelo menos funciona!


Aqui também é muito importante embrulhar com camadas extras de plástico bolha e colocar fita adesiva nas extremidades para que fique bem fixo e não se solte da unidade. O plástico bolha é o seu melhor amigo e lembre-se que ele irá proteger de impactos, arranhões e tudo mais que você não deseja passar as piores horas de horror ao abrir a embalagem com uma guitarra totalmente danificada. 

Caso você tenha pouco plástico bolha e achar que pode ainda ficar frágil, pegue uma fronha de travesseiro e coloque a unidade dentro da mesma, assim irá criar mais uma camada extra para proteger seu bem mais precioso contra impactos e demais maldades e judiarias! 


Nessa etapa de misturar os ingredientes na panela e preparar a sopa, lembre-se que a ideia principal é a prevenção de danos: coloque as partes desmontadas afim de que não fique nem apertada e nem sobrando espaços demais, por isso coloque as barras de isopor nas extremidades da caixa (principalmente no fundo) para que no caso de impactos da embalagem, sua guitarra esteja protegida.


Quando você não tem uma caixa de papelão própria para instrumentos musicais (facilmente encontrável nas casas que vendem instrumentos musicais, geralmente eles colocam fora e você pode pedir que normalmente eles dão com alguma facilidade) você poderá "fabricar sua própria caixa", basta ter bastante papelão, bastante fita adesiva e recortar as partes afim de formar uma caixa no tamanho apropriado formando a embalagem. 

Eu oriento a sempre enviar com a guitarra desmontada, basta desparafusar os quatro parafusos que prendem o braço do corpo, remover as partes e voalá, estará desmontada e pronta para preparar as etapas. No caso dos instrumentos com braço colado, como no caso das Les Paul, não terá outra coisa a fazer senão enviar montado mesmo, nesse caso basta tomar as mesmas precauções e colocar uma barra de isopor afim de prender o headstock e evitar os impactos nessa região, para que não aconteça algo muito desastroso conforme a imagem a seguir:


Headstock Fender Stratocaster danificado


Headstock Jackson danificado


Headstock Ibanez danificado


Headstock Jackson danificado


Headstock Gibson danificado

É muito comum quebrar nessa região, veja nas imagens que todas as marcas e modelos de guitarra irão quebrar, então proteja bastante. Reforce ao máximo possível com plástico bolha e com as barras de isopor, irá minimizar impactos. É claro que se o funcionário atirar a embalagem dentro do compartimento, contra uma parede, deixar cair do caminhão, colocar outras embalagens muito pesadas em cima ou seja lá o que vier a fazer, bom.. nesse caso vai danificar mesmo e a única coisa que se pode fazer é utilizar o seguro para recuperar o valor do instrumento.


Coloque o endereço em letras separadas/maiúsculas para ajudar na hora de identificar o endereço, além de cobrir o papel com fita adesiva. Isso é importante porque caso apanhe chuva na hora da entrega (sim, catastroficamente isso poderá vir a acontecer) poderá borrar e ninguém entenderá o endereço do destinatário, por isso proteja os endereços (tanto o do remetente quanto o do destinatário para não correr esse risco).




Uma outra dica importante é forrar a caixa com papel pardo, também facilmente encontrável nas casas de embalagem para que a embalagem fique um pouco mais apresentável, além de ajudar a omitir um pouco o conteúdo.


O único erro de enviar dessa forma sem enrolar a caixa com o papel pardo é que todos irão imaginar o conteúdo da caixa não só pelo formato, mas pelas dicas que a mesma contém, nesse caso, o visível logo da "Giannini". Aproveitando essa imagem dessa embalagem como exemplo, coloque etiquetas adesivadas com a palavra "frágil" para que os funcionários possam raciocinar na hora e que não coloquem peso em cima dessas unidades.

Bom galera, minhas ideias terminam por aqui, espero que possa ter ajudado. Embora pareça um post "óbvio demais", pode até ser para quem tem experiência, mas 90% dos vendedores de ocasião se sentem totalmente perdidos e não sabem como enviar um instrumento e acabam fazendo as piores coisas imagináveis e inimagináveis. Já recebi Strocaster apenas dentro do bag e com papel pardo cobrindo o bag e quando abri encontrei o escudo e os knobs quebrados (tudo que era de plástico), sorte a minha que consegui repor essas peças sem gastar muito, pior seria se tivesse vindo com o braço ou com o headstock quebrado. É isso galera, sempre que vocês comprarem algum instrumento, por precaução, mostrem esse post para o cara que irá enviar.. ele poderá saber todos esses passos, mas poderá também a aprender a enviar uma guitarra ou um baixo corretamente. Abração!

William de Oliveira

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Galeria de arte Stratocaster: Tema Seiwa


Olá amigos, venho a compartilhar um pouco mais das novidades que separei para o mês de Setembro, onde o nono mês do ano foi escolhido para abordar uma sequência de postagens abordando mais uma conhecida guitarra japonesa Seiwa Stratocaster, aparentando alta qualidade, esse instrumento é extremamente raro em solo brasileiro e dificilmente iremos encontrá-la aqui, para se obter um exemplar semelhante ao modelo apresentado aqui, acredito ser necessário pesquisar pelo Ebay e importar, a menos que alguém tenha estado no Japão nos anos 80 e trazido para cá, o que já seria bem difícil mas não impossível de acontecer. Construída na planta de FujiGen Gakki durante os anos 80 (esse exemplar de 1985 conforme anunciado pelo proprietário), apresenta características já conhecidas pelos instrumentos produzidos por esse fabricante: acabamento preciso e um braço extremamente confortável dentro dos padrões desejados para uma Stratocaster!


Segundo os critérios do anunciante e proprietário do instrumento:


Estado: apresenta sinais visuais normais de desgaste tais lugares batidas e arranhões.

Som: Como eu disse, um verdadeiro "faz de tudo", ou seja, sons limpos (clean) e um som definido e duradouro (sustain) com distorção (gain) aumentando.


Dessa forma, para a nossa próxima postagem da galeria especial de fotografias, segue a sequência de imagens de uma belíssima guitarra "Seiwa" Stratocaster. As Seiwa foram construídas no Japão, essa mais especificamente nos anos 80 (Exemplar de meados dos anos 80', pertencente a safra de 1985). Esta Seiwa pode ter uma variedade de opções para cobrir tanto quanto aquele timbre limpo e dinâmico, bem como utilizar com distorção e ainda manter sua transparência e definição sonora. 

Como todos sabem, a ideia de fazer uma exposição virtual e transformar essas imagens em uma galeria de arte é parte de meu esforço em pesquisar e apresentar o objeto de estudo aos amigos desse blog. Chega de papo e vamos ao que interessa. Linda Stratocaster, alguém discorda?

Especificações:

Nome: Seiwa®
Modelo: Stratocaster
Série: Century Royal
Madeira do corpo: ?
Madeira do braço: Maple
Escala: Rosewood
Corpo - Shape: Stratocaster
Número de casas: 21
Headstock: Big Head
Neck Plate: Standard 4 furos
Configuração dos captadores: S/S/S 
Captadores: Originais
Chave seletora: 5 posições
Controle: 1 Volume - 2 Tone
Cores: Black
Ponte: Vintage Style - 6 parafusos
Tarraxas: Originais
Escudo e Knobs: Escudo White com Knobs White
Fabricação: Made in Japan 
Ano: 1985
Fabricante: FujiGen Gakki
Período de Fabricação: 1980 - 198?







































Fonte:

domingo, 27 de setembro de 2015

Amigo Strateiro: Jennifer Superstrato


Olá amigos, apresento para o mês de Setembro na coluna "amigo strateiro", a primeira publicação do amigo Ruan Macedo a participar e postar sua experiência com essa Jennifer Superstrato, além de ter a oportunidade de mostrar seu instrumento. Vocês poderão questionar pelo fato dela ser Superstrato e não Strato, mas o post vai valer a pena!

Conforme mencionei nas outras vezes, outras pessoas também podem usar esse espaço para compartilhar informações e experiências com seus instrumentos, nada mais legal do que somar vivências. Quer que sua Stratocaster seja postada no blog? Entre em contato conosco. A única regra é: o instrumento precisa "ser strato" e o amigo precisa "ter a strato". 

Dando continuidade nesse espaço, convido para o mês de Outubro o amigo Ruan Macedo, proprietário de uma inacreditável Jennifer Brazuca! (E depois vocês irão entender a razão por ter chamado de inacreditável, no vídeo que Ruan gravou para que pudéssemos conhecer seu trabalho e o incrível timbre da guitarra depois da customização).

Nome: Ruan Macedo
Cidade: São Sebastião do Passe/Bahia
Proprietário: Jennifer Superstrato
Serial Number: --

Especificações do modelo:

Nome: Jennifer

Modelo: Superstrato
Série: ?
Madeira do corpo: Cedro
Madeira do braço: Marfim
Madeira da escala: Marfim
Número de casas: 22 casas 
Configuração dos captadores: 3 humbucker (H-H-H)
Captadores: (Braço) Seymour Duncan Hot rails, (Meio)Sound HB, (Ponte)EMG
Chave seletora: 5 Posição
Controle: 1Vol e 1 push pull e 1 mix
Cores: Preta craquelada 
Ponte: Fixa com sistema synchronizer
Escudo: --
Knobs: 3 knobs inox
Fabricação: Made in Brazil
Ano: 1990 - 199?
Fabricante: Jennifer®
Serial Number: --



Conte um pouco da sua história com o instrumento: onde, como e quando comprou.

Bem galera eu moro na cidade de São Sebastião do passe (BA) e comecei a tocar no ano de 2004 com os meus 14 anos de idade, foi quando ganhei o meu primeiro violão Giannini presente de uma tia, mas o meu sonho era de fato a guitarra.

Três anos depois fiquei sabendo que um amigo estava vendendo uma guitarra Jennifer, então fui até a casa dele para ver o instrumento e mesmo com várias pessoas criticando a marca, quando eu vi não resisti, era amor à primeira vista, tinha que ter aquela craquelada para mim.



Fiz alguns bicos, juntei uma grana e fui comprar o instrumento, para minha tristeza ele já tinha vendido e saí de lá chateado, pois não tinha conseguido o meu sonho, peguei o suado dinheirinho e dei para minha mãe, passaram-se uns dias até que esse mesmo amigo me procurou dizendo que a pessoa que tinha comprado a Jennifer na mão dele tinha desistido da compra, para minha felicidade, então ele deixou a guitarra na minha mão para eu testar. Meu pai vendo que eu estava sem dinheiro comprou ela para minha alegria.
            

Para você, o que representa ter uma Jennifer?

Um sonho, uma realização e satisfação.




Como você definiria o som desse instrumento?

A minha guitarra tem uma sonoridade cristalina aberta bem equilibrada entre os graves, médios e agudos cortantes com ataques de notas definidas com captação nervosa para os drives.  

Qual o principal ponto forte dessa guitarra?

Sonoridade gostosa de ouvir que da vontade de não parar mais de tocar com conforto. Com tudo isso, ainda possui um visual que foi amor à primeira vista. E também uma customização que ficou a minha identidade.     
  
Qual o principal ponto fraco dessa guitarra?

Sinceramente em minha opinião o ponto fraco da Jennifer eram os captadores de fabricação, os quais não medi esforços para trocar.

Pretende fazer algum upgrade ou já fez alguma modificação na guitarra?

Um detalhe: eu nunca levei ela em um Luthier, eu mesmo fiz tudo e a minha guitarra se transformou em uma guitarra icônica. Eu mudei as tarraxas, mudei também a ponte, o nut (pestana) eu coloquei de alumínio para dar um som cristalino. Os captadores eram dois: um single-coil (braço) e um humbucker (ponte), eu troquei os dois e abri um furo no meio da guitarra para instalar outro captador humbucker no meio.




A configuração dos potenciômetros antes era de quatro botões: 1 volume 1 tom para o primeiro captador e 1 volume 1 tom para o segundo captador parecido com o modelo Les Paul, eu mudei a configuração e ficou assim, eu fechei um furo do potenciômetro e no local coloquei uma chave de 5 posições, 1 volume e 1 push pull, esse potenciômetro tem a função de mudar o som do captador do braço, o hot rails tem 1 mix para ligar o captador do braço e da ponte com características  da stratocaster Fender.



Eu fiz uma blindagem para melhorar o aterramento da guitarra e também coloquei um porta paleta na parte superior do corpo próximo ao braço. Eu penso em colocar um botão com led para fazer um efeito killswitch ao estilo Buckethead.


O que você diria para pessoas que não conhecem as guitarras Jennifer ou que sempre duvidaram da qualidade desses instrumentos produzidos em solo brasileiro?

Bem galera, eu sempre vi a minha guitarra como um diamante no interior de uma rocha bruta que só precisava ser lapidada, às vezes só precisa mudar algumas coisinhas no instrumento e terá muito mais da sua personalidade na guitarra como os grandes guitarristas fazem e até as pessoas que te criticaram vão bater palmas para você.




Independente de ser Fender, Gibson, Tagima ou propriamente Jennifer. o importante é você curtir o instrumento e conseguir tirar o melhor de você e da sua guitarra fazendo tudo com amor.

No Brasil existem muitas marcas e Luthier que faz instrumentos de qualidades em solo brasileiro: “e o teu futuro espelha essa grandeza”.


Confira o timbre dessa Jennifer no vídeo a baixo:



        

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Raridade do mês: Zeis Stratocaster Prototype #0001


Olá amigos, venho trazer nesse post dedicado à raridade do Mês de Setembro, uma edição produzida recentemente pelo meu grande amigo e renomado conhecedor das Stratocasters Moisés Figueiredo, responsável direto pelo meu interesse nas stratos e por fazer com que eu quisesse aprender mais sobre elas. Apresento para vocês um pouco dessa narrativa, feita pelo próprio Moisés, do protótipo do que chamaremos pelo nome Zeis Stratocaster.

Bem, hoje vou contar um pouco da história e do processo de refinish e montagem de uma strato relic. Desde o ano de 2004, quando ganhei minha primeira guitarra, uma Vantage com Floyd Rose, comecei a me interessar em modificar os instrumentos, a ler sobre circuitos eletrônicos, pedais, amplificadores e etc... Comecei construindo meus próprios pedais, depois meu amplificador valvulado (Bassman), a customizar minhas guitarras e a de meus amigos. Sempre de forma amadora, como hobbie. Com o passar dos anos, depois de poder comprar, vender e trocar várias Fenders, tive a oportunidade de conhecer um pouco sobre o assunto. Por mais que a gente lê, pesquise, sempre se descobre algo novo. E o que mais me fascina neste mundo Strateiro são as guitarras PRÉ-CBS, pelo seu shape, o acabamento em nitro craquelando, captadores em carretel de fibra, fios FORMVAR, escudos amarelados e as ferragens oxidadas pelo tempo. Devido à impossibilidade financeira de adquirir uma legítima Pre-CBS 62/63 e pela facilidade no mundo handmade, resolvi montar minha própria pré-cbs rsrsrs.




Seria muita pretensão de minha parte? Seria... mas resolvi ocupar meu tempo nas férias, feriados e ainda achei o louco do William Martins pra me acompanhar neste projeto. Comecei a garimpar corpos de Strato na internet. O primeiro critério era ser de uma Fender em Alder, mas os preços abusivos me levaram a escolher o corpo de uma Fender Southern Cross em cedro. Discussões a parte se a SC é uma Fender ou não, está neste post, que o William já discutiu. 

Apesar da resistência em deixar a ideia original, por ter um shape um pouco diferente e ser em cedro, eu o escolhi pela a qualidade da madeira. Era um corpo com 20 anos de estrada, a madeira já estava mais que estabilizada.




Após isso iniciei uma nova busca, agora pelo braço. Como a referência era uma Stratocaster 62 tinha que ser um braço em maple com escala em rosewood, ajuste do tensor pelo tróculo e escala com raio 7,25’’. Pesquisei no ML e Ebay, e o alto preço dos braços Fender com essas características me fez mudar de plano novamente e pegar um braço que não era legítimo Fender. Achei no Ebay um braço canadense já usado, por um preço mais aceitável, mesmo assim teve um custo elevado. Nessa altura do campeonato já havia mudado a idéia inicial em dois itens, então tentei caprichar na ponte e tarrachas vintage. Comprei uma ponte Gotoh vintage e uma tarracha Wilkinson, das antigas, exatamente idênticas às Kluson. Muitas Wilkinson’s de hoje são diferentes neste detalhe:


Wilkinson nova

Wilkinson antiga, como as Kluson


Já pra parte elétrica escolhi potenciômetros ALPHA, captadores em Alnico 5, fios de tecido, escudo Fender Standard, chave seletora Fender. Obs: Nesta foto ainda estava sem a chave seletora Fender adquirida posteriormente.





Agora hora de colocar a mão na massa. Como tinha que ser um projeto totalmente feito por mim, iria arriscar a pintura. Não tenho pretensões de me tornar um luthier, mas sim um autodidata pra fuçar meus instrumentos. Tenho meus projetos profissionais na área da saúde que passam longe disso, então essas experiências são como hobbie. Assim, todas as experiências citadas a seguir são minhas, não tem obrigação nem intenção de serem corretas no julgamento profissional dos amigos luthiers.  Por ser experimental, era uma oportunidade de eu aprender as técnicas de pintura, não tinha a pressão em acertar de primeira vez. Pra isso decidi comprar uma pistola de pintura para aprender, treinar e depois pintar a guitarra. Não queria, nem tinha grana para investir muito nisso, então resolvi comprar um equipamento amador e barato. Vi uns vídeos no youtube e achei que seria possível uma boa pintura usando uma pistola pulverizadora, já que a mesma consegue pressão suficiente para formar a névoa de tinta, que permitiria uma aplicação de tinta sem escorrer sobre o corpo. Só aprender a regular o bico e pronto!!! Ela é barata, funcional e de simples uso para pequenos projetos. Não me arrependo, ainda está em pleno uso quando preciso dar acabamentos nos meus pedais handmades. Único ponto negativo é ser de plástico, assim, os solventes de pintura em contato prolongado acaba deteriorando o material plástico do bico. Se fosse metálica seria perfeita pra trabalhos pequenos como este. Então uma dica é colocar os produtos (seladora, tinta e verniz) só no momento em que for usar e logo depois já limpar a pistola.  




FOTO PISTOLA.


Mãos à obra:
Materiais:
- 3 lixas 120
- 3 lixas 220
- 3 lixas 320
-3 lixas 400
- 6 lixas 600
- 2 lixas 1200
- 2 lixas 2000
- Taco para lixar (pode ser feito com pedaço de madeira com borracha na base, 7cmx13cm)
- Pistola Pulverizadora
- Flanelas limpas para limpar os materiais antes de aplicar a seladora, tinta e verniz)
- 300 ml de seladora nitrocelulose Sayerlack (irá diluir, então o volume final será por volta de 500ml)
- 400ml de tinta DUCO branca
- 400ml de tinta DUCO Sonic blue
- 400ml de Verniz Laca nitrocelulose
- 1 rolo de fita crepe para proteger escala do braço e cavidades do corpo.
- Massa numero 2 para polir
- Cera automotiva para polir
- 2 litros de diluente Sayerlack/Thinner (para diluir e lavar a pistola)

Pessoal, o volume de seladora, tinta e verniz é o suficiente pra fazer todo processo e ainda sobrar. Coloquei um volume maior já que se tratava de um teste, então a probabilidade de erros era grande. Esperei chegar as minhas férias pra ir pra casa dos meus pais no interior, pra fazer tudo no quintal mesmo. Como moro em outra cidade e em apartamento isso não seria possível. Assim, a primeira parte foi retirar a tinta original do corpo SC preto. Usei lixa numero 100 até retirar todo o verniz e uma boa parte da tinta. Depois fui pra lixa 220 pra não arranhar a madeira com um grão de lixa grosso, depois lixa 320, 400 e 600 (essa ultima etapa com lixa fina faz com que necessite de menor quantidade de seladora pra tapar os poros da madeira). Não recomendo utilizar removedor de tinta, apesar de ser mais prático e não desnivelar a superfície do corpo, pois restos do produto podem penetrar nas fibras da madeira e atrapalhar o resultado final. Para evitar ondulações na superfície ao lixar, usem sempre um taco de lixar, assim a superfície permanece plana.






Após lixado e limpo, o corpo vai p/ aplicação da seladora. Usei a seladora com base nitrocelulose da Sayerlack, segui as recomendações do fabricante nas porções de diluição. Foram 3 ademãos bem finas até cobrir todos os poros do corpo e 24 horas de secagem completa. Depois usei lixa dágua 600, limpei e parti para o terceiro passo... hora de preparar o fundo branco e a tinta DUCO Sonic Blue. Relic com ar de naturalidade tem que ser feito usando selador, tinta e verniz em nitrocelulose. Assim, fica o mais próximo de uma Fender pré-cbs que eram pintadas com estes produtos. Escolhi no catálogo uma tinta DUCO na cor branca, que não lembro o nome específico, e um azul que achei parecido. Comprei em loja de tinta automotiva, o cara preparou na hora. Comprei 400ml de cada e foi o suficiente, até sobrou. A  tinta ficou um pouco forte, então misturei um pouco da tinta branca para clarear e cheguei à perfeição, na minha opinião.




Dando sequência, apliquei 3 ademãos bem finas do fundo branco e esperei 24 horas de secagem. Depois uma lixa dágua bem leve, numero 600 só pra retirar possíveis defeitos na aplicação do fundo e criar atrito p/ aumentar a fixação com a tinta Sonic Blue, que virá por cima. Esse tipo de coisa não li nem aprendi com ninguém, veio de suposições próprias, então pode não ser o usado pelos profissionais.



Apliquei essa tinta DUCO branca como fundo pra ficar com o mesmo visual das pré-CBS, quando iniciar o relic ele aparecerá.  Dá esse aspecto de degradê, com o amarelado do verniz, Sonic Blue, fundo branco e madeira.




Continuando apliquei 3 ademãos de Duco Sonic Blue, 24 horas de secagem e lixa d’água 600 pra uniformizar a superfície e diminuir a “casca de laranja”. Depois, uma ultima ademão fininha de Sonic blue, 24 horas de secagem, lixa d’água 600 e limpeza.



                                
Partindo para última etapa, aplicação do verniz nitro. Utilizei o verniz Laca Nitro da Sayerlack e segui rigorosamente as instruções do fabricante. Apliquei 3 ademãos de verniz e esperei 24 horas de secagem. Depois iniciei o processo uniformização da superfície, usei lixas dágua 600, 1200 e 2000. Lembrando que nessa etapa, este processo de lixamento é feito utilizando um taco de lixar e lixas molhadas em sabão com detergente. Após isso, inicia-se o polimento com massa de polir numero 2. Haja força nos braços para o polimento...isso cansa muito. Uma politriz elétrica pode te ajudar muito nesta etapa. Depois de polida com a massa numero 2 aplico a cera de polir automotiva. O resultado foi magnífico pra um trabalho amador e utilizando apenas ferramentas simples.




Para o braço apliquei o verniz pigmentado, pois o mesmo já vinha com o logotipo Fender e não queria perdê-lo. Como o acabamento era de nitro, só dei uma lixada com grão 600-1200 para retirar pequenos defeitos e apliquei o novo verniz por cima. Fiz uma camada bem fina pra não ficar com acabamento muito grosso. Depois de seco foi lixado novamente e polido.



Algumas fotos do processo em andamento, ainda sem o relic.







Desde o início do processo de pintura o William Oliveira se empolgou, e me ajudou com tons e códigos de tintas usadas pela Fender. Como ele foi acompanhando todo o processo, ele se apaixonou pelo projeto, até mais do que eu, que estava executando. Então ele começou a me importunar querendo comprar a guitarra quando pronta. Neguei todas as propostas, pois era um projeto pessoal e não profissional. Já tínhamos feitos outros negócios no passado, inclusive tinha vendido uma Fender Standard MIM pra ele em 2012. Mas, sabe aquele cara chato que todos os dias fica te enchendo o saco querendo fazer negócio? Pois bem, ele é assim rsrsr. Acabei desistindo e fiz o compromisso de passá-la depois que termina-la e ficar um tempo com a guitarra pra curtir um pouco. A essa altura do campeonato ela já estava quase pronta, faltavam detalhes, faltava o relic da pintura e do hardware.

Mandei fazer um carimbo com a data em que terminei a pintura e assinei meu nome em todas as partes da guitarra (corpo, escudo e braço), pra evitar que seja vendida um dia como reissue para algum desavisado. Está longe de ter ficado perfeita, mas muita gente não sabe diferenciar nem uma standard falsa, quanto mais uma reissue. Então tentei deixar essas marcas pra não ser vendida como original.




















Combinei com o William que ele nunca desfaça dessa guitarra, mas se algum dia tiver que vendê-la, por motivos de forças maiores, terá que me avisar, pois terei o direito de compra pelo mesmo preço que vendi. Somos de um tempo em que a palavra ainda tem valor, e espero compromisso por parte dele. Amizade tem dessas coisas rsrs. Essa guitarra pode ser identificada como réplica facilmente, só desmontá-la e ver minhas assinaturas, datas, madeira do corpo pelo encaixe do braço e etc. Sem desmontá-la existem pouquíssimos detalhes aparentes que entregam ser uma réplica. E aí, você consegue identificá-los? Comente no espaço de comentários suas impressões. O processo de Relic do hardware, pintura e plastico será descrito em outra oportunidade, já que o texto ficou muito extenso.
Finalizando, fiquei cerca de 2 meses com a guitarra e enviei ao amigo por preço de custo. Hoje o William Oliveira diz ser uma das guitarras preferidas de sua coleção, tanto por beleza, como por tocabilidade e timbre. 

Grande abraço a todos amigos do Blog.

Moisés Figueiredo